Cirurgias para o glaucoma

A cirurgia para o tratamento do glaucoma está indicada quando, mesmo com o uso de todos os tipos disponíveis de colírios, ainda assim não se obtém a suficiente redução da pressão ocular.

Primeiro inicia-se com o uso de um colírio tentando obter-se a redução necessária da pressão ocular e, caso um não funcione, troca-se por outro, ou adiciona-se outro, até que a chamada “pressão alvo” seja atingida. Normalmente associa-se até quatro diferentes colírios, pois existem quatro diferentes classes que agem de forma distinta na redução da pressão ocular. Se mesmo usando quatro colírios a pressão continua elevada, a cirurgia se torna a única alternativa.

Outra indicação para cirurgia é quando, ainda que os colírios provoquem a suficiente redução da pressão ocular, o paciente, por algum motivo não consegue usar os colírios. Os colírios anti-glaucomatosos podem ter alguns efeitos colaterais e alguns pacientes são intolerantes a eles. Neste caso deve-se indicar o tratamento cirúrgico.

A principal cirurgia para o glaucoma é a trabeculectomia. Ela pode ser feita com anestesia local. Na trabeculectomia, o cirurgião confecciona um tipo de válvula (natural) no olho do paciente, que auxilia no escoamento do líquido que preenche o olho (humor aquoso), diminuindo a pressão ocular.

A trabeculectomia tem como objetivo unicamente diminuir a pressão ocular, para que diminua a progressão do glaucoma. Ela não tem como objetivo trazer uma melhora da visão nem a recuperação da parte do campo visual que já foi perdida.

A válvula natural confeccionada na trabeculectomia funciona em média durante 10 anos, mas pode funcionar desde apenas alguns dias até mesmo para sempre, dependendo da cicatrização do paciente e da severidade do glaucoma, entre outros fatores.

Em alguns casos, durante a trabeculectomia, o cirurgião aplica um anti-metabólito chamado mitomicina. A mitomicina aumenta o índice de sucesso da cirurgia, pois dificulta o entupimento da válvula. Entretanto, por esta apresentar alguns riscos, o cirurgião deve avaliar quando deve ou não ser usada a mitomicina.

A trabeculectomia não requer internação hospitalar, podendo ser realizada em nível ambulatorial, com acompanhamento domiciliar ou no consultório médico. Após a cirurgia serão usados colírios antibióticos e anti-inflamatórios.

A trabeculectomia é o principal tipo de cirurgia para o glaucoma, pois se aplica na maioria dos casos, e principalmente no glaucoma crônico de ângulo aberto, que é o subtipo mais comum de glaucoma. Existem, contudo, diversas outras modalidades de cirurgias destinadas a diferentes subtipos de glaucoma.

No glaucoma neovascular (mais comum em diabéticos e hipertensos) o tratamento pode ser através de coagulação com laser de argônio (panfotocoagulação). No glaucoma agudo de fechamento angular a cirurgia indicada pode ser a iridotomia ou a iridectomia. No glaucoma crônico de fechamento angular a opção cirúrgica pode ser a iridoplastia.
Com o desenvolvimento de tipos mais seletivos de laser, tem aumentado a indicação da trabeculoplastia, que é eficaz no glaucoma crônico de ângulo aberto, no glaucoma pigmentar, entre outros.

No glaucoma com componente facomórfico (glaucoma induzido pela catarata) o tratamento cirúrgico escolhido pode ser a remoção do cristalino através da facoemulsificação com implante de lente intra-ocular (a mesma cirurgia usada para tratar a catarata).

Nos pacientes que têm catarata e glaucoma, duas técnicas podem ser aplicadas em um único ato cirúrgico, tratando as duas patologias de uma única vez (faco-trabeculectomia).
Casos severos e refratários ao tratamento podem ter beneficio com o implante de uma válvula artificial para o escoamento do liquido intra-ocular. A válvula mais utilizada é a válvula de Ahmed. Na cirurgia o oftalmologista faz a fixação da válvula junto à parede ocular e introduz uma pequena sonda no interior do olho, pela qual o liquido escoará.

Por último, ainda existem os procedimentos ciclo-destrutivos (ciclocrioterapia e ciclofotocoagulação) que estão reservados para os casos de glaucoma terminal, onde já existe uma importante baixa da acuidade visual e não houve resposta a outras formas de tratamento.